Todas as fontes indicam que o melhor museu da cidade é o Musée Granet, que merece de fato a sua fama. Criado em 1848 e situado no extremo leste do Quartier Mazarin, ele é constituído por um conjunto de coleções muito diversas, que eu não esperava encontrar em uma cidade tão pequena como Aix.

Escultura homem com chapéu, de Kosta Alexopoulos. Fotografia de Mathias Costa.

A maior e mais interessante delas é o conjunto composto pelas centenas de quadros e esculturas que integram o legado do artista e colecionador suísso Jean Planque, falecido em 1998. Planque era um artista sem grande prestígio, mas completamente apaixonado pela pintura e que tinha uma capacidade ímpar de encontrar valor nos quadros que não eram ainda reconhecidos pela opinião geral.

Diferentemente de outros colecionadores, que usavam do dinheiro acumulado por outras gerações, Planque conseguiu seus quadros com o seu trabalho de olheiro. Durante anos, ele trabalhou descobrindo novos quadros e novos pintores para um grande galerista suíço, o que lhe valeu uma série de comissões e de contatos com os jovens pintores, cujas telas ele adquiria.

Dubuffet, na coleção de Planque, que se tornou amigo do artista.

Observando com cuidado os quadros que eram rejeitados por outros compradores, Planque conseguiu adquirir uma série de telas que vieram a ter um valor econômico muito superior ao que ele poderia pagar. Ele chegou a adquirir um Van Gogh porque notou que um quadro apócrifo e sujo tinha todo o estilo do pintor, apesar da ausência de assinatura.

Pelos contatos que estabeleceu com Picasso, conseguiu também adquirir algumas de suas obras, como as que estão na foto inicial do post. É realmente impressionante a coleção que ele conseguiu acumular, a partir de meios bastante limitados, de seu olhar analítico e de uma grande intuição para descobrir talentos que não foram ainda consagrados.

Um dos quadros que achei mais lindos foi este, de La Frasnaye. Parece uma abstração, até que se olha com cuidado e aparece uma ponte, com seus reflexos sobre um rio. Chama-se Ponte sobre o Meulan.

A Coleção Planque fica em um prédio separado, cuja entrada é gratuita. Já a coleção principal fica em um edifício maior, também localizado no extremo leste do Quartier Mazarin.

Nesse prédio, fica a excelente coleção "De Cézanne a Giacometti", que exibe muitas obras maravilhosas, entre  as quais a Ana decidiu registrar algumas, de um modo intencionalmente diagonal, pois disse que são mais legais as fotos assim.

Numa cidade hoje permeada por referências a Cézanne, não deixa de ser estranho o fato de que seu principal museu tenha passado décadas sem ter uma única obra de Cézanne, que faleceu em 1906. Chega a ser ridículo que somente podemos visitar o Atelier Cézanne em Aix (visita incontornável para todos os turistas...) porque esse prédio histórico foi adquirido em 1954 pelos biógrafos estadunidenses de Cézanne, e doado para o município. O Atelier seria demolido naquela época, quando a expansão da cidade alcançou o terreno em que estava instalado (e abandonado), sendo que o governo local não se mobilizou para preservá-lo.

Foi somente em 1984 que o Museu Granet pôde exibir telas de seu artista mais famoso, e somente porque o Musé D'Orsay emprestou oito trabalhos do pintor. A primeira obra de Cézanne efetivamente adquirida pelo Granet foi um retrato de seu amigo Émile Zola, pintado em sua juventude, e comprada em um leilão ocorrido em 2011.

Esse estranhamento desapareceu quando entendi que Cézanne não foi uma pessoa muito querida na cidade, que demorou muito a apreciar sua arte. Uma cidade pequena, burguesa e conservadora, na qual ele viveu a maior parte da vida, mas onde não foram acolhidas as obras de um pintor revolucionário. Laura Pujol conta inclusive, que o diretor que presidia o Granet na época da morte de Cézanne chegou a afirmar que, enquanto fosse vivo, nenhuma tela do pintor seria exibida no Museu.

Mais rejeitadas que as pinturas de Cézanne, foram as obras de Zola, que tratou sempre de forma desdenhosa da sociedade aristocrática de Aix. O escritor veio para a cidade com 13 anos e se tornou um amigo inseparável de Cézanne. Zola resumiu bem a relação de ambos com a cidade: "lugar magnífico, pessoas detestáveis" (Pujol, 2023).

Com toda essa tensão, não causa espanto o fato de que as obras de Cézanne que estão no Museu sejam menores, tanto que não constam de nossas fotos. Muito mais legais eram as alongadas esculturas e pinturas de Giacometti, que renderam ótimas fotos com a Ana, que adora interagir com as obras. Desde pequena, é nossa diversão tirar fotografias em que ela imita as poses das esculturas.

Além disso, do lado de fora, conseguimos fazer também uma sessão de fotos que ficou bacana, para encerrar de forma bacana esta visita ao museu.